Esse é o começo de um negócio, em tese igual a qualquer outro, mas que o tempo revelou ser também um exemplo de correção e honestidade mútua. Estou falando da relação entre a importadora de vinhos Mistral e a vinícola argentina Catena Zapata.
Para celebrar essa espécie de bodas de prata, Ciro Lilla, o dono da Mistral, realizou uma bonita festa no Jockey Club de São Paulo, com a presença de Nicolás Catena e sua esposa Elena. Foi uma oportunidade especial para degustar alguns exemplares dessa vinícola, que chegou ao nível das melhores do mundo nas últimas décadas. Começando com dois de seus Chardonnay, o Angelica Zapata e o Catena Alta, ambos densos de aroma e sabor típicos da variedade, procedentes do excepcional vinhedo Adrianna, a 1.480m de altitude sob a vista gloriosa dos Andes (foto).
O Catena Alta Cabernet Sauvignon 2001, depois de 15 anos na adega da vinícola, estava vigoroso e ao mesmo tempo elegante; em seguida, o Catena Alta Malbec 1995, da reserva pessoal da família Catena, impressionou com seu frutado consistente e gosto que só os grandes vinhos revelam e, depois, o Nicolás Catena Zapata 2001 também atestou o grau de qualidade raro dessa bodega de Mendoza, com longa intensidade. O simpático Catena Sémillon Doux 2012 encerrou a noite, um vinho de sobremesa com equilibrada doçura.
Por falar em simpatia, essa é uma característica de Nicolás Catena, de 76 anos, responsável por dar à Malbec o selo de qualidade garantida com seus vinhos fora do comum. Sua parceria com Ciro Lilla, da Mistral, começou com um acerto verbal à mesa de um restaurante em Mendoza e o contrato foi assinado em um guardanapo. Que vale até hoje, 25 anos depois – um bom exemplo de seriedade para empresários (e políticos) de ambos países.
A aguardada classificação The World’s Most Admired Wine Brands 2017, publicada pela revista inglesa Drinks International, indica as 50 marcas de vinho mais admiradas do mundo na pesquisa deste ano. A vinícola Torres, da Espanha, está em primeiro e a nossa conhecida Concha y Toro chilena em segundo, superando grandes marcas francesas e italianas. Impressiona a boa presença de Austrália e Nova Zelândia na lista.
A classificação é obtida a partir de pesquisa junto a profissionais do vinho, entre eles Masters of Wine, sommeliers, professores de enologia, jornalistas e compradores profissionais da bebida. Não há restrição quanto a estilo ou tipo, com os critérios abrangendo o crescimento da qualidade, a essência do terroir, a capacidade de atender à expectativa e gosto dos consumidores, as práticas de mercado (marketing e packaging) e, óbvio, o poder de atração dessas marcas no mundo.
As tampas de metal e as rolhas sintéticas, tipo silicone, estão cada vez mais presentes nos cocorutos das garrafas de vinhos – mas somente daqueles de custo menor. Não dá para negar: a primeira impressão sobre a qualidade do vinho vem no momento em que usamos o saca-rolhas. Uma boa rolha de cortiça indica de imediato que as chances de o vinho agradar são altas.
A grande maioria dos consumidores dos principais mercados consumidores de vinho associa a rolha de cortiça ao bom vinho. Pesquisas feitas nos Estados Unidos, França, Itália, China e Espanha que, na média, 86% dos entrevistados preferem a velha e boa rolha. No Brasil, a agência Conecta, em parceria com o Ibope, mostrou que 80% dos consumidores estariam dispostos a pagar mais por uma garrafa vedada com rolha de cortiça.
Desde o Império Romano, a cortiça é utilizada para cobrir e conservar alimentos, em especial, o vinho. Produto natural, feito a partir da casca do sobreiro, um tipo de carvalho abundante nos países ibéricos, a rolha de cortiça é o principal artefato usado para selar as garrafas de vinho. E, para sua obtenção, não é preciso cortar a árvore: basta apenas extrair a casca e esperar que ela cresça novamente, um processo que dura, em média, nove anos.
Portugal é líder mundial na produção de cortiça, responsável por 65% da cortiça comercializada no mundo, exportando para mais de 100 países, cujo valor corresponde a 2% das transações comerciais internacionais portuguesas. Qualitativamente, também Portugal é líder na produção de rolhas, sendo a preferida das principais vinícolas do mundo.
A Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR) foi criada em 1956 para representar e promover a indústria do país, estabelecida em Santa Maria de Lamas, conselho de Santa Maria da Feira, no coração da indústria da cortiça. A APCOR possui mais de 270 associados, que representam 80% da produção nacional e 85% das exportações de cortiça e que cobrem todos os subsetores da indústria – preparação, transformação e comercialização.
A preocupação em tornar os vinhedos cada vez mais sadios, sem o uso de pesticidas, é uma tendência irreversível no planeta. Uma boa notícia: o organismo francês de pesquisas Observatoire National du Déploiement des Cépages Résistants (OsCaR) está estudando parcelas plantadas com variedades resistentes a duas das pragas mais terríveis que sempre afetaram os vinhedos, o oídio e o míldio, fungos capazes de tirar o sono dos viticultores e, de quebra, desgraçar nossos fígados com os pesticidas usados para combatê-los.
O Observatório, que está em seu primeiro ano de funcionamento, acompanha o desenvolvimento de uvas procedentes da Alemanha, Suíça e Itália plantadas no Languedoc-Roussillon e na Nouvelle-Aquitaine, além de variedades nativas em Bordeaux. E novas parcelas serão plantadas nos próximos anos, em condições variadas de solo e clima, quem sabe permitindo a diminuição progressiva do uso de pesticidas – atualmente, nada menos de 80% desses produtos são utilizados em território francês para combater o míldio, principal doença fúngica da videira e que causa sérios danos quando afeta as flores e os frutos e o oídio, que pode levar à podridão dos tecidos tenros da planta. Mas esse não é um problema apenas francês e sim de quase todos os vinhedos do mundo, o que gera uma saudável expectativa quanto aos estudos do OsCaR.
Quem gosta de vinhos terá no sábado, dia 29 de outubro, uma boa chance de escolha. Uma feira, aberta ao público das 12h00 às 22h00, irá reunir vinhos e destilados premiados com medalhas em diversos concursos. A maior vantagem é justamente poder experimentar antes de comprar. E com a venda direta os expositores prometem preços convidativos, destacando vinhos que exibem relação custo x benefício interessante, com premiados a partir de 30 reais.
A Expo Medalhados acontecerá no Centro Cultural Unibes, à Rua Oscar Freire, 2.500, no Sumaré, zona oeste de São Paulo. O evento reunirá vinhos e destilados premiados no Concurso Mundial de Bruxelas-Brasil e no The Best of Wine Weekend, ambos realizados no decorrer deste ano. Serão cerca de 20 empresas reunidas no agradável espaço cultural da Unibes, cada uma em sua barraca ao estilo feira livre.
Você está parado no trânsito, a fila quilométrica de carros não dá chances de chegar mais cedo em casa. O que dá para fazer numa hora dessas para atenuar o stress? A saída: imaginar que está bebendo o seu vinho predileto. Primeiro, “sinta” o aroma com calma e em seguida “beba” um pequeno gole, lembrando todo o prazer que ele sempre lhe proporcionou.
Brincadeira maluca? Que nada, essa é a conclusão de um estudo desenvolvido nas universidades de Wellington, de Harvard e de Plymouth, como indicou Maryanne Gary, uma das pesquisadoras:
“Nós chegamos à conclusão de que os efeitos da sugestão são mais importantes e frequentemente mais surpreendentes do que muita gente poderia pensar”. E uma das bases da pesquisa foi justamente aferir a vontade de beber o vinho bem-amado em meio a situações estressantes, com resultados que permitiram checar que o “pensador” realmente se sente mais relaxado. O estudo foi divulgado na revista universitária Current Directions in Psychological Science.
Os pesquisadores afirmaram que isso tem a ver com o que chamam de “resposta esperada”, assim definida: se desejamos que o vinho nos relaxe, nosso cérebro responde automaticamente nos tornando mais abertos e dispostos a aceitar aquela premissa, “em um ensaio subconsciente visando atingir as nossas expectativas”. É um fenômeno parecido com o “efeito placebo”, quando tomamos um falso medicamento pensando ser verdadeiro e passamos a nos sentir bem. Tim-tim, saúde!
Celso La Pastina, diretor da importadora La Pastina, e Luciano Ercolino, da vinícola italiana Vinosia se uniram para lançar no mercado o vinho “Dal 1947 Primitivo de Manduria DOP”, criado exclusivamente para a La Pastina homenagear o ano de sua fundação (1947).
O vinho feito a quatro mãos por Celso e Luciano passa agora a fazer parte do portifólio da importadora. “Trouxemos este rótulo, que marca a data da nossa fundação, e acreditamos no sucesso deste vinho por sua qualidade e imponência”, indica Celso La Pastina.
Produzido na região de Manduria (Puglia, sul da Itália), o Dal 1947 é feito com a uva Primitivo de um vinhedo da década de 40, localizadas em uma parcela demarcada da vinícola Vinosia, rebatizada hoje como Terre di San Vincenzo, que ganhou este nome em homenagem ao Sr. Vicente, fundador da La Pastina. “Neste pequeno pedaço de terra estão concentradas as melhores vinhas de Luciano Ercolino. Meu pai merecia uma homenagem à sua altura, além de um vinho exclusivo, sonho antigo da família La Pastina. Por isso, esperamos até encontrar o vinho certo que contasse a história e a tradição da La Pastina em cada gole”, afirma Celso La Pastina, indicando que o Dal 1947, tal como os vinhos dessa ensolarada região italiana, “tem aroma de cerejas e framboesas maduras, notas de chocolate e especiarias, como baunilha. Na boca é encorpado, com taninos macios e final persistente”.
O Dal 1947 pode ser encontrado nas principais lojas de vinho e empórios de todo Brasil ao preço de R$ 240,00
Em 2015, de cada cinco garrafas vendidas no planeta uma era italiana. É uma impressionante marca do primeiro produtor mundial de vinhos, em números divulgados pela Coldiretti, principal confederação italiana de viticultores. O país faturou no ano passado 5,4 bilhões de euros, um aumento de 575% nos últimos 30 anos.
E por que a comparação com essas três décadas? Em 1986, um escândalo arremessou ao inferno os brancos, tintos, rosés e espumantes italianos: eram os vinhos “batizados” (por demônios?) com metanol, que envenenaram um grande número de pessoas. Veio então um maior controle de qualidade e normas mais rígidas de elaboração que resgataram a confiança dos consumidores no mundo inteiro. Com produção de 48,9 milhões de hectolitros, 66% de suas garrafas vendidas no exterior são classificadas como DOCG e DOC (denominação de origem controlada e garantida) ou IGT (indicação geográfica típica).
Os vinhos italianos mais populares são Chianti, Brunello di Montalcino, Barolo (foto), os elaborados com Pinot Grigio e o espumante Prosecco, que ultrapassou a produção francesa de champagne em volume.
Boa oportunidade para um paralelo com nosso país na área política: se a corrupção está envenenando nossas instituições como um vinho propositalmente estragado, nada como recomeçar a partir de normas mais rígidas de controle e punição para que volte, forte e limpo, o rótulo do respeito à ética.
Quase 400 mil visitantes em 2015: este é o balanço do Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, região que desenvolve o enoturismo a um ritmo que a chumbada economia brasileira desconhece. O aumento em relação ao ano anterior foi de 34%, superando as expectativas da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), que esperava não mais de 10% a 15%. Um recorde, quase 10 vezes mais, por exemplo, que os visitantes de 2001.
A bela região abrange trechos dos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul e ali se encontram bons hotéis, comida gostosa, eventos obviamente ligados ao vinho e outras atrações típicas (a programação está no site www.valedosvinhedos.com.br. A maioria dos quase 400 mil visitantes é formada por brasileiros, com 92% do total, procedentes em sua maioria dos estados das regiões Sul e Sudeste. Os 8% de estrangeiros estão representados, principalmente, por norte-americanos, franceses, alemães, italianos, portugueses, uruguaios e argentinos. Uma conquista e tanto dos descendentes de italianos que ali fizeram sua segunda pátria e recebem muito bem os turistas. Em tempos de dólar nas alturas é uma boa opção subir a Serra Gaúcha.
Lá, além de bebericar os vinhos locais, com destaque para os bons espumantes, um dos passeios mais simpáticos é ao Instituto R. Dal Pizzol, que mantém o Vinhedo do Mundo, coleção com 400 variedades de uvas de 30 países dos cinco continentes. Está junto ao Ecomuseu da Cultura do Vinho, localizado na Rota Cantinas Históricas, em Faria Lemos, distrito de Bento Gonçalves. Há pouco ocorreu ali a colheita para o Vinum Mundi, elaborado com nada menos de 165 uvas diferentes. O Vinhedo do Mundo pode ser visitado de segunda a sexta, das 9h às 11h40min e das 13h30min às 17h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 16h30min. Para grupos é preciso agendar reserva pelo telefone 54 3449 2255 ou e-mail dalpizzol@dalpizzol.com.br
O que significa ir a Mendoza? Duas coisas: visitar a capital e as imensas áreas planas da província, ambas de mesmo nome e um denominador comum: a impactante cordilheira dos Andes, que se agiganta diante do desfile quase ininterrupto de vinhedos, olivais e plantações de frutas. Se a capital não é exatamente um destino turístico em si, a atração maior fica mesmo por conta das inúmeras vinícolas da província, algumas com pousadas e restaurantes. Mas há algo que vai além: os novos condomínios onde, além de se hospedar, beber e comer bem, é possível ter um vinhedo para chamar de seu.
Vinhedos Casa de Uco
Um dos mais recentes é o Casa de Uco (foto), no sudoeste de Mendoza. Situado no vale de mesmo nome, Uco, tem um excelente hotel, moderna bodega e vinhedos a perder de vista. Ali, pode-se escolher uma área própria de cultivo, a partir de um hectare, que dá aproximadamente 7.000 garrafas de vinho. Nem é preciso dizer que a estrela do lugar é a uva Malbec, símbolo da produção argentina e particularmente de Mendoza. O proprietário recebe toda a assistência técnica durante o plantio, colheita e vinificação, podendo optar também pela venda das uvas. A bodega tem a consultoria do conhecido enólogo italiano Alberto Antonini e o bom vinho produzido por ele recebe o próprio nome Casa de Uco.
Para passar temporadas no local (que é belíssimo, com montanhas de cume nevado bem ao lado), o empreendimento dispõe de lotes de 2.500 m2 para a construção de casas projetadas pelo proprietário de Casa de Uco, o arquiteto Alberto Tonconogy, celebrado como um dos mais importantes da Argentina (se der sorte e ele estiver por lá, é muito simpático e de ótima conversa).
Colheita em The Vines
Outro vistoso projeto em Mendoza é The Vines, com resort, restaurante com a grife do chef Francis Malmann (Siete Fuegos), villas particulares e os vinhedos à disposição de quem quiser adquirir uma ou mais áreas. Está situado também no vale de Uco e põe à disposição dos donos uma equipe de especialistas que cuida de todas as etapas até que, finalmente, as garrafas ganhem rótulo próprio. Mas o proprietário pode também dar palpites e se envolver na produção, sobretudo se for um apaixonado pelo vinho e não apenas investidor e, claro, tiver tempo para acompanhar localmente a colheita e vinificação. Depois, vem a fase do descanso do vinho em barricas de carvalho, o engarrafamento e o desenvolvimento de sua marca. Nesta última etapa, a equipe de marketing de The Vines ajuda na comercialização dos vinhos através da criação de website com loja online e na logística para exportação. A consultoria é do respeitado enólogo Santiago Achaval, que produz alguns dos mais conceituados vinhos argentinos em sua bodega Achaval-Ferrer.
Outro local de hospedagem voltado para o vinho e rodeado por parreirais é Entre Cielos, na região de Lujan de Cuyo. Um hotel boutique com belas suítes, inclusive uma chamada de “Edição Limitada” (foto), espécie de casulo pairando sobre o vinhedo com terraço privativo, Jacuzzi externa e abertura no teto para desfrutar o estreladíssimo céu mendocino (seus habitantes gostam de falar que são 330 dias anuais de tempo bom por lá). Outro destaque é o spa com hamam, este prometendo um circuito de 6 fases com diferentes usos da água e do calor. E, claro, há massagens com óleo, lama e sabão especial.
O vinho Marantal é produzido no resort com três tipos (tinto, reserva e rosé). Para comer, dentro do prédio ou em mesas junto ao vinhedo, há o Katharina Bistro e, mais pitoresco, The Beef Club oferece empanadas (os hóspedes podem aprender a fazê-las com o chef) e a tradicional parrilla. Entre as atividades possíveis há trilhas para passeios de bicicleta, ginástica com personal trainer, observação de pássaros, escalada, pescaria, golfe, passeios a cavalo, caiaquismo, rafting e até caminhadas na neve.
A viagem foi com a LAN, que realiza voos para Mendoza com escalas em Buenos Aires ou Santiago do Chile.