O perigo das ofertas de vinhos pela internet

Você compra vinhos pela internet? Um item importante na hora de digitar os números do cartão de crédito no site é a oferta das importadoras, lojas e clubes de vinho. Mas o bom preço é suficiente? Não, é preciso um mínimo de informação sobre o vinho para saber se vale a pena arriscar o dinheiro nessas garrafas.

A internet vem sendo cada vez mais usada para essa checagem. O problema é a credibilidade de quem passa a informação. Tenho dado gostosas risadas quando amigos me repassam e-mails que recebem com vinhos em oferta, pedindo minha opinião. Respondo com prazer e até exercitando um pouco de sadismo, confesso, ao comentar em tom meio gaiato o texto grandiloquente e praticamente inverossímil sobre as supostas qualidades daquele vinho. O aroma tem isso e aquilo, o sabor é um espanto e o retrogosto, ah, o retrogosto, vai transportar o destinatário do e-mail a altiplanos de sensações. Tudo por R$29,90.

Nesses casos e para escapar da possível desova de estoques altos de vinhos meia-boca, a internet ganha importância para o filtro da informação, com a procura por opiniões independentes e objetivas. Pessoalmente, tento passar para o leitor questões básicas: a intensidade do aroma, o nível de acidez e de taninos (que influenciam demais na qualidade) e se o vinho oferece uma sensação boa e possivelmente duradoura depois de bebido. Mais do que isso é um aditivo do qual o leitor pode ou não desconfiar. O ideal, talvez, seria fazer como o vendedor de uma loja de bebidas no Mercadão de São Paulo, que ouvi dando uma opinião definitiva a um indeciso cliente sobre certa garrafa. “Este vinho? É o bicho!”, disse ele. O cliente comprou.

A surpreendente versatilidade do olfato quando bebemos ou comemos

Mignardises do Couvent des Minimes, Provence, França

Muita gente considera frescura o ato de cheirar o vinho. Numa degustação dos vinhos portugueses Buçaco percebi que o representante da vinícola, António Rocha, não fazia comentários sobre as características de cada safra enquanto eu e os demais à mesa trocávamos opiniões sobre as nuances daquelas maravilhas engarrafadas, ainda mais desafiadoras à medida que os rótulos retroagiam ao século passado. Para ele, tudo se resume a uma questão simples: “Vinho tem de cheirar a vinho”.

É verdade, ninguém é obrigado a decifrar os aromas que a bebida apresenta. Mas também é verdade que eles estão lá, na garrafa recém-aberta e nas taças, independente de serem cheirados a fundo ou não. Mas não custa nada dar uma cheiradinha, pelo simples fato de que ela pode revelar, de imediato, se o vinho está estragado ou não. São famosos os odores desagradáveis de mofo provocados por fungos na rolhas, que passam para o líquido, ou de vinagre, quando o vinho oxidou. Antes de mofar ou avinagrar a boca não seria interessante enfiar o nariz na taça?

E por que não aproveitar a grande vantagem oferecida por nosso olfato para esticar o prazer dessa intrigante bebida? Ele é bem mais versátil do que pensávamos. Há muito tempo os cientistas sustentam que somos capazes de identificar entre 10 mil e 25 mil odores diferentes, o que já seria espantoso. Mas a especialista em olfação Leslie Vosshall, da Universidade Rockfeller, de Nova York, começou a duvidar desses números ao considerar que, se o ouvido distingue cerca de 340 mil sons e os olhos, 10 milhões de cores com apenas três receptores de luz, por que o nariz só reconheceria esses poucos milhares de cheiros se dispõe de 400 sensores olfativos?

Suas pesquisas levaram à seguinte reflexão: “Nossos ancestrais usavam bem mais o olfato. No mundo moderno, a refrigeração e a higiene corporal limitaram os odores, o que explicaria nossa atitude segundo a qual o olfato não é tão importante quando a audição ou a visão”. E passando da teoria à prática, chegou à conclusão, baseada em suas longas pesquisas envolvendo a cavidade nasal humana, que somos capazes de reconhecer perto de um bilhão de odores. Uma bela perspectiva para quem deseja ampliar os sentidos da degustação, não só de vinhos e outras bebidas, mas também da comida. Além do prazer imediato, podemos acionar mais tarde nossa poderosa memória olfativa para lembranças que nos fizeram bem. Não é bom?