Coq au vin, a receita clássica francesa com o toque malandro da cachaça

 

Coq au vin (para 4 pessoas)

Ingredientes

8 pedaços de frango / 2 doses de cachaça envelhecida (uma para marinar e outra para flambar) / 1 garrafa de vinho tinto encorpado / 1 cebola média picada / 4 dentes de alho picados / 200 gramas de bacon em pedacinhos / 2 colheres (sopa) de farinha de trigo / 2 xícaras de caldo de galinha / 1 bouquet garni (folhas de louro, alecrim ou tomilho e talos de salsinha amarrados) / 2 colheres (sopa) de massa de tomate / 250 gramas de champignons cortados ao meio / 250 gramas de mini-cebolas, descascadas / sal e pimenta-do-reino a gosto

Modo de fazer

Coloque o frango para marinar no vinho e na metade da cachaça junto com o alho, a cebola, o louro e o tomilho, de preferência de um dia para o outro, na geladeira. Retire o frango da marinada e enxugue cada pedaço com toalha de papel. Em uma panela grande, frite o bacon em fogo médio até ficar crocante. Acrescente o frango e doure por 6 a 7 minutes. Polvilhe com a farinha, mexa bem e em seguida coloque o alho, a cebola e refogue até ficar macio. Flambe com a outra dose de cachaça, deixe evaporar e adicione a marinada, o caldo de galinha, o bouquet garni e a massa de tomate. Cubra com a tampa ligeiramente aberta e cozinhe em fogo baixo por 45 a 50 minutos. Tempere com sal e pimenta a gosto. Adicione os cogumelos e as mini-cebolas e aumente o fogo para médio, com a panela sem tampa, por cerca de 15 minutos ou até que as cebolas estejam macias e o molho tenha reduzido um pouco. Sirva o coq au vin com batatas gratinadas ou spaghetti na manteiga.

A surpreendente versatilidade do olfato quando bebemos ou comemos

Mignardises do Couvent des Minimes, Provence, França

Muita gente considera frescura o ato de cheirar o vinho. Numa degustação dos vinhos portugueses Buçaco percebi que o representante da vinícola, António Rocha, não fazia comentários sobre as características de cada safra enquanto eu e os demais à mesa trocávamos opiniões sobre as nuances daquelas maravilhas engarrafadas, ainda mais desafiadoras à medida que os rótulos retroagiam ao século passado. Para ele, tudo se resume a uma questão simples: “Vinho tem de cheirar a vinho”.

É verdade, ninguém é obrigado a decifrar os aromas que a bebida apresenta. Mas também é verdade que eles estão lá, na garrafa recém-aberta e nas taças, independente de serem cheirados a fundo ou não. Mas não custa nada dar uma cheiradinha, pelo simples fato de que ela pode revelar, de imediato, se o vinho está estragado ou não. São famosos os odores desagradáveis de mofo provocados por fungos na rolhas, que passam para o líquido, ou de vinagre, quando o vinho oxidou. Antes de mofar ou avinagrar a boca não seria interessante enfiar o nariz na taça?

E por que não aproveitar a grande vantagem oferecida por nosso olfato para esticar o prazer dessa intrigante bebida? Ele é bem mais versátil do que pensávamos. Há muito tempo os cientistas sustentam que somos capazes de identificar entre 10 mil e 25 mil odores diferentes, o que já seria espantoso. Mas a especialista em olfação Leslie Vosshall, da Universidade Rockfeller, de Nova York, começou a duvidar desses números ao considerar que, se o ouvido distingue cerca de 340 mil sons e os olhos, 10 milhões de cores com apenas três receptores de luz, por que o nariz só reconheceria esses poucos milhares de cheiros se dispõe de 400 sensores olfativos?

Suas pesquisas levaram à seguinte reflexão: “Nossos ancestrais usavam bem mais o olfato. No mundo moderno, a refrigeração e a higiene corporal limitaram os odores, o que explicaria nossa atitude segundo a qual o olfato não é tão importante quando a audição ou a visão”. E passando da teoria à prática, chegou à conclusão, baseada em suas longas pesquisas envolvendo a cavidade nasal humana, que somos capazes de reconhecer perto de um bilhão de odores. Uma bela perspectiva para quem deseja ampliar os sentidos da degustação, não só de vinhos e outras bebidas, mas também da comida. Além do prazer imediato, podemos acionar mais tarde nossa poderosa memória olfativa para lembranças que nos fizeram bem. Não é bom?