
Há uns dois anos, vi um documentário sobre o resgate de um barco romano do fundo do rio Rhône, no sul da França. Fiquei bastante impressionado e incluí Arles e seu museu Antique como provável destino de viagem para ver de perto o chaland, com 31 metros de comprimento e 10 toneladas de madeira caprichosamente retiradas da lama do rio para a reconstrução.
Mas Arles é mais do que o famoso barco que pude ver em junho deste ano. A cidade realiza importantes festivais de arte e fotografia e seu centro histórico mostra ao mesmo tempo joias arquitetônicas do período galo-romano e também uma romântica incursão ao final do século 19, quando Van Gogh chegou à cidade e lá pintou mais de 300 quadros com a Provence como tema.
O café que frequentava na lendária Place du Forum, tomada pelas mesas de restaurantes e dominada pela estátua do célebre poeta provençal Frédéric Mistral, está lá firme: Le Café de La Nuit, todo amarelo e com arranjos de girassol. Ali perto, na Casa Amarela (destruída por bombardeio na Segunda Guerra), foi onde Van Gogh teve sua famosa briga com Gauguin em 23 de dezembro de 1888, cortando a orelha direita em seguida. Ainda na Place du Forum fica o Grand Hôtel Nord Pinus, onde Cocteau e Picasso se hospedavam e tomavam seus drinques nas mesinhas da calçada. Vale viver a experiência deles bebendo um pastis no final da tarde.

Antes, um passeio a pé pelo pequeno centro reserva impressões duráveis. Como o maravilhoso anfiteatro, ou Arena, o maior construído pelos romanos na Gália. Ele ganhou três torres na Idade Média, teve várias destinações e é a mais antiga praça de touradas do mundo. E elas continuam, como na Feira de Páscoa, com a cidade recebendo cerca de 300 mil visitantes que vibram com as diversas modalidades envolvendo chifres e homens. E juntando arte e touradas, a Goyesque d’Arles é realizada em setembro de cada ano, com o piso e laterais da Arena cenografados por grandes artistas. Depois, o caminho leva às ruínas do Teatro Romano e ao belo jardim próximo, seguindo por ruelas charmosas em tom pastel, com parada na Fundação Vincent van Gogh, onde arte contemporânea, histórica e exposições temporárias conectam artistas de todo o mundo aos originais do pintor.

E para quem achou a história do barco interessante, hora de ir ao Arles Antique, alojado em um edifício moderno de Henri Ciriani colado ao Circo e Horto romanos. O achado foi tão importante que uma nova área de 800 m² foi construída no museu para abrigar o chaland e mais de 450 objetos da época, permitindo uma visão bem próxima de como era a vida e os hábitos da cidade há dois mil anos. E há também uma profusão de peças e esculturas que traçam os vestígios da época, como o busto que se acredita seja de Júlio César, fundador de Arles em 46 a.C.

Ficar, comer, ver e beber
Para se hospedar em Arles, a dica é o novo L’Arlatan, em um palácio medieval transformado em hospedagem artsy pelo artista cubano Jorge Pardo a convite da empreendedora das artes Maja Hoffmann. A piscina fica dentro do jardim projetado pelo designer Bas Smets, as mais de 100 portas são pintadas à mão e instalações foram feitas sob medida por vários artistas. Quartos e suítes únicos têm qualidade e conforto atuais e o bom restaurante e bar completam o ambiente descolado.

A cidade está vibrando com o Centro de Artes Luma Arles, no Chemin des Minimes, onde se destaca a torre reluzente do arquiteto Frank Gehry e com obras que ainda vão até 2020. Depois de visitar as exposições ou o Parc des Ateliers, almoce no Le Réfectoire ou jante no La Chassagnette (uma estrela Michelin), ambos dedicados à cozinha orgânica e local.
Para aperitivos, boa escolha é a Épicerie do Le Cloître, hotel com bar de tapas em mesas na calçada e restaurante em uma ruela tranquila do centrinho de Arles. Outra opção simpática é o Esperluète, perto da agitada Place du Forum, com pratos de ingredientes provençais bem finalizados.

Dica: para quem viaja easy rider na França, os escritórios locais de turismo são muito eficientes. Como o Office de Tourisme Arles Camargue, que desvenda a cidade, Patrimônio da Humanidade pela Unesco.